Coisa interessante acontece neste país... O brasileiro não conhece leis, não quer saber, não dá a menor bola, nem sonha em segui-las. Mas se é para defender seus prazeres, sua liberdade, evoca até as leis divinas.
Milico que usa de má-fé para denegrir a imagem de uma instituição já tão baleada pelos anos de vergonha não merece respeito por seu "status" de homossexual. Fico indignada com a atitude desse sargento, tanto pelo que está fazendo com o Exército quanto pelo que está fazendo com a comunidade gay (expressão que, diga-se de passagem, é desastrosa, porque parte do princípio de que gays formam um povo à parte... enfim...).
Eu, euzinha... quase contabilizando mais amigos gays do que héteros. Para solidificar minhas amizades, nunca fiz distinção de cor, classe social, preferência sexual... Não tento aqui demonstrar virtude! Sou o que sou! Todos têm defeitos, inclusive eu. Também julgo, também distingo... mas pelo caráter. Assim escolho meus amigos. Sem sistema de cotas.
Também eu, euzinha... casada com um milico. Cresci avessa aos militares, tendo horror a tudo que se referia a eles. Em família, sempre ouvi as histórias angustiantes vividas na ditadura. E lá fui eu me casar com o "inimigo"... que conheci através de uma grande amiga jornalista... que me apresentou o aspirante como um "milico que lê Marx". Hoje, grande coisa... esse Marx.
Dito isso, deparo-me com essa notícia patética, de um sargento fazendo escândalo porque o Exército o estaria punindo por ser gay, por ter revelado seu "segredo", seu relacionamento com outro militar. Mais ridícula ainda é a reação da sociedade (e de parte da imprensa, claro... ou seria da imprensa e de parte da sociedade?). O Exército cerca uma emissora de TV para prender um desertor que tem um mandado expedido há mais de uma semana. Isso já aconteceu. Várias vezes. O artigo 187 do Código Penal Militar prevê isso. Volta da ditadura? Que dramalhão mexicano! Todo militar, hetero ou homossexual, sabe o que o espera nesse meio. Eu não aprovo as resoluções... mas se são predefinidas, você sabe onde está se metendo! E isso é em qualquer ambiente de trabalho.
Não, meus caros paranóicos, a ditadura militar não está de volta. Não, os militares não têm qualquer interesse em tomar este governo medíocre e repetir os anos linha-dura. Não, o Exército não faz "queima de arquivo" só porque o sargento choroso abriu para o mundo (oh! sim! para o mundo!) sua opção sexual. E, de uma vez por todas: Não, o milico não está sendo punido por ser homossexual, mas pelo crime de deserção. Se, agora, depois de toda a mídia, já se ouvem as ironias e piadinhas nos quartéis (convenhamos, qualquer instituição é formada por pessoas de diversas índoles), o próprio sargento ajudou a complicar essa situação. Um exibicionismo só!
Má-fé. Ele sabia que estava errado. Ele sabia que já estava contrariando todas as regras militares. E nada tinha a ver com o fato de ser gay. Mas ele queria mudar o foco. Não podia sair como o errado da situação. Claro, é mais fácil ser a vítima. E foi exatamente o que ele fez. Organizou a agenda pra que o país se voltasse contra uma instituição já desvalorizada, levantando uma bandeira que nem estava em questão.
Há gays no Exército, apesar de haver leis condenando tal "condição" (rsrsrs). Assim como há também muitas leis que já caducam na Constituição Brasileira. O brasileiro, melindrado como só, adora levar os assuntos aos extremos. Mesmo sem entender lhufas!!
Convivendo mais com o meio militar, eu hoje tenho uma visão diferente desses profissionais que são treinados pra guerra, ganham um salário miserável - considerando o estresse a que são submetidos - e continuam sendo incompreendidos pelos que pensam, estupidamente, que as Forças Armadas só têm serventia numa ditadura ou nas ruas, fazendo pose. Hoje, vejo o quanto esses homens poderiam ser úteis para este país, não fosse a mediocridade e a hipocrisia reinantes. Comecem pensando na Amazônia... e que tudo que é lido sobre a "invasão gringa" não é boato. Pensem também no trabalho feito no Haiti, com o nosso dinheiro, quando essa força poderia estar sendo usada aqui mesmo.
E, finalizando o assunto do sargento, peço que reflitam até onde vai essa vontade do brasileiro de aparecer, de passar por cima de toda e qualquer regra constituída, de tirar vantagem e contar os lucros a qualquer preço, de desconsiderar por completo qualquer norma estabelecida apenas para que exista um processo de civilidade em nosso cotidiano.
Gays, héteros, negros, brancos, pobres, ricos, cultos, analfabetos. Deveríamos estar unidos contra a corrupção... do próprio povo; Contra o vandalismo... que descamba pra violência; Contra o desperdício... que incindirá sobre as próximas gerações. Deveríamos estar preocupados com este presente catastrófico que alguns teimam em chamar de futuro, ao invés de nos preocuparmos com discussões inúteis sobre preconceitos descabidos, que são criados para desviar nosso olhar de nossos próprios erros.