Vou aproveitar um post do Alex Primo pra retomar um assunto que eu já discuto há aaaaaaanos. Mas prometo nem entrar em muitos detalhes.
Não sou nenhuma especialista, mas tenho um pouco mais de conhecimento sobre aviação do que a maioria das pessoas que conheço por causa do meu pai, que é piloto. Ele se aposentou como comandante e era pra estar curtindo a aposentadoria neste momento, depois de mais de 30 anos dedicados à velha Varig. Entretanto, o JÁerus parou de pagar... e todo mundo que tenha acompanhado a situação da companhia gaúcha deve estar ciente do porquê (este "porquê" é assim mesmo?). Fora isso, minha amiga Fernanda, também filha de variguianos, seguiu a carreira dos pais e virou aeromoça... da TAM.
Ou seja, eu sempre tive um certo acesso às reais informações sobre a situação aérea. E ainda tenho. A imprensa, diga-se de passagem, não publica nem a metade. E eu cheguei a ter brigas homéricas com amigos meus por causa do assunto. O governo Lula (diz-se: Dirceu e companhia) dizia "as outras companhias têm capacidade para agüentar o rojão". E as pessoas diziam "a Varig tem mais que quebrar!", "não quero meu dinheiro sendo usado pra salvar essa companhia". E eu já dizia... vocês não sabem do que estão falando.
Bom, eu já sabia da ligação do Dirceu com a TAM, do objetivo da TAM de abocanhar a Varig, da falta de manutenção dos aviões da TAM, do desrespeito das novas companhias aéreas à folga regulamentar da tripulação (já viajou de ônibus com o motorista caindo de cansado?), dos problemas da Gol, da pista-sabão de Congonhas, dos problemas dos controladores, etc, etc... Mas acho que a maioria da população realmente não liga pra isso. A preocupação é com o preço da passagem, basicamente. Os aviões da Varig estão no chão? É porque não tem dinheiro pra manutenção e os aviões não vão decolar sem manutenção. Os aviões da TAM não param no chão? Bom...
Infelizmente, foi preciso que dois aviões caíssem com centenas de passageiros (em um intervalo de quase um ano) e o caos aéreo se instalasse pra que as pessoas começassem a sentir que a situação estava complicada... Antes tarde do que nunca? Não sei. Acho muito triste não se dar ouvidos a pessoas que sabem do que estão falando. E o pessoal da Varig bem que tentou. E como. Eu acompanhei. Eu participei. Não tanto quanto eu queria, mas participei.
Finalmente, começaram a pipocar colunas, reportagens e comentários sobre isso tudo. E uma das melhores colunas que li sobre o assunto nos últimos tempos foi a do David Coimbra, na Zero Hora do dia 3 de agosto. Reproduzo aqui o texto na íntegra:
"Sou uma viúva
É... que saudade da Varig...
Não sou nenhuma especialista, mas tenho um pouco mais de conhecimento sobre aviação do que a maioria das pessoas que conheço por causa do meu pai, que é piloto. Ele se aposentou como comandante e era pra estar curtindo a aposentadoria neste momento, depois de mais de 30 anos dedicados à velha Varig. Entretanto, o JÁerus parou de pagar... e todo mundo que tenha acompanhado a situação da companhia gaúcha deve estar ciente do porquê (este "porquê" é assim mesmo?). Fora isso, minha amiga Fernanda, também filha de variguianos, seguiu a carreira dos pais e virou aeromoça... da TAM.
Ou seja, eu sempre tive um certo acesso às reais informações sobre a situação aérea. E ainda tenho. A imprensa, diga-se de passagem, não publica nem a metade. E eu cheguei a ter brigas homéricas com amigos meus por causa do assunto. O governo Lula (diz-se: Dirceu e companhia) dizia "as outras companhias têm capacidade para agüentar o rojão". E as pessoas diziam "a Varig tem mais que quebrar!", "não quero meu dinheiro sendo usado pra salvar essa companhia". E eu já dizia... vocês não sabem do que estão falando.
Bom, eu já sabia da ligação do Dirceu com a TAM, do objetivo da TAM de abocanhar a Varig, da falta de manutenção dos aviões da TAM, do desrespeito das novas companhias aéreas à folga regulamentar da tripulação (já viajou de ônibus com o motorista caindo de cansado?), dos problemas da Gol, da pista-sabão de Congonhas, dos problemas dos controladores, etc, etc... Mas acho que a maioria da população realmente não liga pra isso. A preocupação é com o preço da passagem, basicamente. Os aviões da Varig estão no chão? É porque não tem dinheiro pra manutenção e os aviões não vão decolar sem manutenção. Os aviões da TAM não param no chão? Bom...
Infelizmente, foi preciso que dois aviões caíssem com centenas de passageiros (em um intervalo de quase um ano) e o caos aéreo se instalasse pra que as pessoas começassem a sentir que a situação estava complicada... Antes tarde do que nunca? Não sei. Acho muito triste não se dar ouvidos a pessoas que sabem do que estão falando. E o pessoal da Varig bem que tentou. E como. Eu acompanhei. Eu participei. Não tanto quanto eu queria, mas participei.
Finalmente, começaram a pipocar colunas, reportagens e comentários sobre isso tudo. E uma das melhores colunas que li sobre o assunto nos últimos tempos foi a do David Coimbra, na Zero Hora do dia 3 de agosto. Reproduzo aqui o texto na íntegra:
"Sou uma viúva
Você entra num desses aviões das modernas companhias aéreas brasileiras. Tenta se acoplar no espaço que lhe é destinado. Não é fácil, seus joelhos espetam as costas do cara da frente e você não pode respirar muito forte ou desgrudar os cotovelos das costelas sem esbarrar nos úberes da gorda sentada ao lado. Aí vem aquela mulher caminhando pelo corredor com um Nutry na mão. A aeromoça. Ela pára a um passo de distância e lhe estende o Nutry:
- Ó teu Nutry.
Respondo:
- Não quero esse teu Nutry.
Não que faça questão de comida de avião. Nunca gostei de comida de avião, por Deus. Prefiro eu mesmo escolher a minha comida. Mas o Nutry é um símbolo. Representa a filosofia dessas companhias de aviação. "Nada substitui o lucro", é o lema delas. Entendo isso. É um troço que se chama "processos de gestão". Aprende-se esse negócio nos cursos de embiei em São Paulo. Basicamente, o que eles ensinam nos embieis é o seguinte: economize. Pronto. Concluído o curso.
Eu, aqui, admito: não entendo spoilers nenhum de aviação. Mas entendo de ser passageiro. É como passageiro que tenho autoridade para afirmar: essas modernas companhias aéreas brasileiras são, como se diz na região oeste do Menino Deus, muquiranas. Como passageiro, sou uma viúva da velha Varig. A velha Varig era conhecida por ter um dos melhores serviços de manutenção do mundo. Os pilotos da velha Varig ganhavam bem - eram os melhores pilotos. Tanto que estão espalhados pelo mundo, na China, na Coréia, na Europa.
Quando você estava em Paris, por exemplo, se lhe sobrevinha um problema, você não procurava a embaixada brasileira; procurava a agência da Varig. E o funcionário da Varig resolvia a questão. Ou se esforçava até o último flap para fazê-lo.
Nunca se ouviu falar de uma porta se desprender de um avião da Varig em pleno vôo. Nem de um cara cair lá de cima. Por minha autoridade de passageiro é que garanto: é chato cair lá de cima.
Uma coincidência: esses fatos ocorreram depois que a Varig fechou. E os atrasos nos aeroportos. E os dois maiores acidentes da história da aviação brasileira, com 10 meses entre um e outro.
Mas o fechamento da Varig foi saudado pelos gestores modernos. Uma companhia que pagava tão bem aos seus funcionários, que prestava serviço de qualidade ao passageiro e que servia refeições com talheres de aço inox tinha de fechar. Os gestores da Varig decerto não fizeram embiei. Não sabiam que nada substitui o lucro."
- Ó teu Nutry.
Respondo:
- Não quero esse teu Nutry.
Não que faça questão de comida de avião. Nunca gostei de comida de avião, por Deus. Prefiro eu mesmo escolher a minha comida. Mas o Nutry é um símbolo. Representa a filosofia dessas companhias de aviação. "Nada substitui o lucro", é o lema delas. Entendo isso. É um troço que se chama "processos de gestão". Aprende-se esse negócio nos cursos de embiei em São Paulo. Basicamente, o que eles ensinam nos embieis é o seguinte: economize. Pronto. Concluído o curso.
Eu, aqui, admito: não entendo spoilers nenhum de aviação. Mas entendo de ser passageiro. É como passageiro que tenho autoridade para afirmar: essas modernas companhias aéreas brasileiras são, como se diz na região oeste do Menino Deus, muquiranas. Como passageiro, sou uma viúva da velha Varig. A velha Varig era conhecida por ter um dos melhores serviços de manutenção do mundo. Os pilotos da velha Varig ganhavam bem - eram os melhores pilotos. Tanto que estão espalhados pelo mundo, na China, na Coréia, na Europa.
Quando você estava em Paris, por exemplo, se lhe sobrevinha um problema, você não procurava a embaixada brasileira; procurava a agência da Varig. E o funcionário da Varig resolvia a questão. Ou se esforçava até o último flap para fazê-lo.
Nunca se ouviu falar de uma porta se desprender de um avião da Varig em pleno vôo. Nem de um cara cair lá de cima. Por minha autoridade de passageiro é que garanto: é chato cair lá de cima.
Uma coincidência: esses fatos ocorreram depois que a Varig fechou. E os atrasos nos aeroportos. E os dois maiores acidentes da história da aviação brasileira, com 10 meses entre um e outro.
Mas o fechamento da Varig foi saudado pelos gestores modernos. Uma companhia que pagava tão bem aos seus funcionários, que prestava serviço de qualidade ao passageiro e que servia refeições com talheres de aço inox tinha de fechar. Os gestores da Varig decerto não fizeram embiei. Não sabiam que nada substitui o lucro."
É... que saudade da Varig...
5 comentários:
"Uma companhia que pagava tão bem aos seus funcionários, que prestava serviço de qualidade ao passageiro e que servia refeições com talheres de aço inox tinha de fechar. Os gestores da Varig decerto não fizeram embiei. Não sabiam que nada substitui o lucro."
Dani, como amiga de filhas de comandantes, pilotos e comissárias da Varig, moradora de um bairro que mais da metade dos moradores trabalharam ou conheciam alguem que trabalhava na Varig tenho que dizer que é a mais pura verdade. A Varig acabou de uma maneira triste, e deixou muita gente na mão sem o seu fundo de aposentadoria. Triste de ver. É verdade, todos sabiam que as cia que ficaram (e vieram) não conseguiriam segurar as pontas.
A Varig foi escola pra maioria dos bons mecanicos de Porto Alegre, mas todos sabemos que uma empresa privada que consegue dar todas aquelas vantagens pros seus funcionários não teria um bom futuro nos dias de hoje.
Triste ver a armação do José Dirceu... como foi triste ver os mesmos "companheiros" colocando o Zuanazzi la na direção da ANAC...
A verdade é que ninguém se espanta, olha praquela diretora da ANAC, ela fica fazendo caras irônicas enquanto estão discutindo coisas sérias.
Triste mas real, e poucos são os que realmente acham ruim, pq olha a situação da política brasileira, aquelas pessoas estão lá pq alguem votou pra elas estarem lá...
bjinho
É, realmente falta respeito e sobra incompetência em diversas áreas em nosso país. O lucro lidera todas as decisões e isso é triste e preocupante.
bjs
... Et le président de TAM-Varig n'a pas démissionné? En France, quand un président de compagnie aérienne démissionne, il peut recevoir de trèèèès bonnes compensations... regarde: 8.500.000€ d'indemnités + 100.000€ par mois pour la petite retraite + 297.000 stock options pour Noël Forgeard, l'ancien patron d' Airbus!! sympathique, non?
Rita:
É... pior é saber que o brasileiro talvez não aprenda a votar nunca! :o\
Carmen:
É bem isso. Só nos resta fazer a nossa parte. Alguém tem que começar, não?
Jujules:
:o\ Ça c'est en France? Je ne sais pas qu'est que ce soit pire... On est beaucoup pareil, n'est pas?
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